Zona sul da cidade de São Paulo, Paraisópolis. Em meio aos cortiços amontoados Hozembergue se põe de pé as quatro e trinta da manha. Na mesma Zona sul, Amarante se desperta quatro horas e meia depois nas imediações do bairro Morumbi. O primeiro mora em Parisópolis desde os vinte e cinco anos, idade em que saiu do Pará. O segundo mora no Morumbi desde 1971, data em que nasceu.
Hozembergue vai de café preto, pão com manteiga, algumas conexões de metro e longas caminhadas até o centro da cidade. Amarante vai para o mesmo local, em seu carro importado e em meio a um trânsito infernal, após um cappuccino e croissant.
O rapaz do Pará passa a manha e a tarde carregando pedras, madeiras e toda a sorte de materiais de construção. Já o rapaz do Morumbi passa o dia com stress e números de investimento na cabeça.
Após o expediente, em Paraisópolis, tem cachaça 51, salsicha e sinuca com os amigos. No Morumbi tem happy hour, regado a whisky 18 anos, queijos finos e troca de ideias sobre as bolsas de valores ao redor do mundo.
Hozembergue tem Katrina, esposa amada que dá educação e carinho aos dois filhos do casal, cafuné ao marido com odor de 51 e é a pessoa que Hoterdan, filho único de Amarante, passa a maior parte do tempo. Não apenas por esse fato é aquela pessoa em que Hoterdan, mesmo inconscientemente, possui maior confiança e dedica maior carinho.
Amarante não fica atrás. O rapaz do Morumbi tem Joana, mãe de seu filho, esposa há vinte anos, sócia em seu escritório, grande responsável pelo carro de meio milhão à Hoterdan, singelo presente em seu aniversário de 18 anos. O filho do casal vive se perguntando internamente se ama mais Joana, os 300 cavalos do esportivo ou Penélope – “amiga” do pai que sempre tem bons conselhos.
Hoterdan, Joana, Penélope e Amarante: todos são endinheirados, de cultura vasta, pensamentos refinados, bom gosto.
Hozembergue, Katrina e os dois filhos do casal: todos eles são trabalhadores, dão valor as coisas simples, são capazes de amar por amar, tem o conhecimento fundamental da vida.
Hoterdan, Hozembergue, Joana, Amarante, Katrina e Penélope compartilham mais do que alguma relação e a mesma zona sul da mesma cidade: todos são infelizes.
3 comentários:
"Não existe amor em SP"
Nao concordo..sp respira oportunidades, e para mim, trás inspiração. De todos os lados, mundos diferentes, sortes e sortes...
Mas eu ainda acredito na simplicidade das coisas, não necessariamente só isso poderá ou trará felicidade, tudo depende das condições de onde se encontra ou se esta guardada as sensações.
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