quarta-feira, 8 de setembro de 2010

United Kingdom of Itabira

Maria nasceu em Itabira, Minas Gerais. Aos quatorze já havia vivido em algumas outras cidades do interior mineiro e enfim por motivos, digamos, “trabalhísticos" paternos mudou-se para Ipanema, Rio de Janeiro.

Não se sabe ao certo se há uma teoria que afirma categoricamente que os lugares em que se vive influem na personalidade e muito menos se ela de fato existe o quanto ela é válida. Tem-se consciência, no entanto, que Maria figurava-se bem dotando da discrição – típica qualidade mineira – combinando-a com a descontração despretensiosa carioca.
As junções “uai/pô” não paravam por aí. Seu corpo era carioca, seus traços eram mineiros. Falando de forma estereotípica tal encontro seria fatal para o coração de qualquer rapaz dotado de um mínimo bem ínfimo de consciência, para Mathieu não seria então obviamente diferente.
O jovem rapaz já havia se apaixonado algumas vezes, é a bem da verdade, mas logo de cara, quando a avistou pela primeira vez, percebeu que ali em Maria havia o melhor de cada estado, de cada cidade, de cada município, de cada rua e de cada esquina que o Brasil ou qualquer outro país pudesse oferecer.
Os dois se entreolharam simpaticamente e desde o primeiro contato se amaram misteriosa e intensamente. A simpatia, mistério e intensidade iam aumentando progressivamente em Mathieu a cada gesto, cada palavra balbuciada, cada comentário que era sempre tão inteligentemente bem colocado por Maria.
Como uma espécie de onda eletromagnética essa gama de emoções de Mathieu se acumulava, se somava e era emanada para a alma de Maria que a recebia “cariocamente” bem e mineiramente tentava escondê-la.
Mas não havia como. A cada milésimo de segundo um admirava mais o outro e se combinavam e se queriam loucamente mais. Na química do corpo dos dois os opostos se distanciavam e coração semelhante dissolvia coração semelhante.
Eles se beijaram se amaram e Mathieu se sentiu completo como nunca antes havia experimentado. No estômago de Maria as borboletas atingiam um nível de RPM nunca antes estudado. As músicas faziam mais sentido, o corcovado era mais lindo e as pedras da rua direita de Ouro Preto reluziam mais magnificamente.
Fora, enfim, construído o trem bala de emoções que ligavam Itabira de Mathieu a Ipanema de Maria.
A grande questão, como tudo de trágico que o amor excessivo traz, era que o trem bala ligava os pensamentos e o amor, mas não os corpos. Maria teve obviamente que voltar para o Rio após a rápida visita a natal Itabira e os saudosos cumprimentos no coração de Mathieu.
Nesse dia, à caminho da rodoviária, no Rio fazia frio e chovia enquanto que em Itabira nevava. Antes de se despedirem calorosamente Mathieu abraçou Maria efusivamente e enquanto acariciava seus cabelos ainda molhados ele prometeu uma visita ao Rio, enquanto Maria jurou um nascer do sol no Arpoador.
Quinze anos depois Mathieu tomava um aperitivo em uma bodega itabiritense e ao som Chico Buarque afirmava que “Ela é carioca”. Mathieu se permitiu a ousadia de corrigir o mestre e pensou: “Não, ela virou carioca”e mineiramente se lamentou, não deixando claro para as pessoas ao seu redor.
Claro naquele momento era apenas como era estranho que o nascer do sol no Arpoador fosse aquilo que sempre lhe proporcionava a maior emoção de todas e pela milésima vez observou o sol refletir no mar, com as pedras e a vegetação ao redor. Tomou mais um aperitivo. Se emocionou: “como é belo o Arpoador! Como eu gostaria de conhecer o Rio.”