quarta-feira, 16 de maio de 2012

Mathieu e Mônica

Mathieu e Monica

Teresópolis não via um único sinal de raio solar havia cerca de uma, duas semanas. Para Mathieu parecia que já se fazia meses ou anos. O jovem passava os dias enclausurado em seu apartamento de um quarto com rigorosos quarenta metros quadrados. Ouvia músicas na maior parte do tempo e fumava cigarros na outra parte. Era exigente nesse aspecto. As bandas podiam ter no máximo dois integrantes, os cigarros podiam ser fumados o número de quarenta, também no máximo.
Mathieu trabalhava com barbas que dariam inveja em qualquer integrante do Los Hermanos. Sua ortografia, gramaticidade e inteligibilidade, porém, não eram dignos de um indivíduo formado há três anos e cinco meses. Talvez por esse motivo suas crônicas não fossem aceitas por ninguém, muito menos por ele.  O ar ainda que carbonizado e o dinheiro apenas na forma circular faltavam. 
Num desses raros momentos de extravasamento, entre vozes altas e espaços apertados o rapaz não pode deixar de reparar que havia uma menina com ar de sobriedade e espírito maduro. A conversa não foi difícil. Monica realmente era exuberante, daquelas que conseguem elevar a um patamar superior uma simples conversa sobre o clássico futebolístico do domingo anterior. 
Foram quarenta minutos de risadas de canto de boca e muitas interiores até que uma amiga da moça, com ar etílico e espírito literalmente desequilibrado impôs um fim ao encontro. Telefones e olhares foram obviamente trocados.
Depois de exatas duas semanas, doze horas e vinte e cinco minutos devidamente cronometrados pela aflição de Mathieu eles finalmente se encontraram de novo. O ambiente era menos, muito menos hostil do que o do último encontro. Era impossível não reparar nas arvores que circundavam todo o ambiente e nas famílias com suas crianças passeando alegremente. O ar estranhamente puro, a falta do cigarro, a felicidade de todos ao redor causavam no rapaz uma sensação parecida com a de uma flecha atingindo simultaneamente as doze vertebras torácicas. 
Talvez exatamente por isso Mathieu vez pouco mais do que distribuir sorrisos singelos e agitações de cabeça na vertical. Monica, por sua vez, gesticulava na mesma quantidade que falava. De um jeito estranhamente tentador, ela conseguia ser ponderada ainda que agitada. 
Foi falando pouco e ouvindo muito que o jovem rapaz descobriu que a moça era uma grande editora. Foi falando, lendo e ouvindo muito que Monica conseguiu captar os traços no papel do rapaz e os torna-lo suficientemente interessantes para que o mesmo conseguisse uma cadeira e uma escrivaninha no mesmo andar que o dela.  
Quando o casal se deu por si já haviam se passado dois ou três anos de muitas carícias, de muitos intercâmbios, de muito compartilhamento entre eles. Mathieu não tinha mais a barba, o medo e a inocência. Monica continuava a mesma. 
Teresópolis não via um único sinal de luz solar havia cerca de um, dois dias. Mathieu, no entanto, não conseguia mais como antes reparar. Seus textos o exigiam demais para isso. Ele já havia trocado de escritório e não tinha em tempo a mesma quantidade que tinha em sentimento para dedicar a Mônica. 
Era Quinta- Feira. Mathieu entrou em casa com as pernas, cabeça e costa doendo. Fez um largo copo de café. Acendeu um, depois outro cigarro. No meio do segundo se deparou com um bilhete de Mônica que vinha acompanhado com a cópia da chave da casa de Mathieu que ele havia feito especialmente para ela. O bilhete fora escrito com caneta vermelha e dizia: “O certo é escrever o que se vive e não viver o que se escreve.”  . Teresópolis chorou.