Mathieu
e Monica
Teresópolis não via um único
sinal de raio solar havia cerca de uma, duas semanas. Para Mathieu parecia que
já se fazia meses ou anos. O jovem passava os dias enclausurado em seu
apartamento de um quarto com rigorosos quarenta metros quadrados. Ouvia músicas
na maior parte do tempo e fumava cigarros na outra parte. Era exigente nesse
aspecto. As bandas podiam ter no máximo dois integrantes, os cigarros podiam
ser fumados o número de quarenta, também no máximo.
Mathieu trabalhava com barbas que
dariam inveja em qualquer integrante do Los Hermanos. Sua ortografia,
gramaticidade e inteligibilidade, porém, não eram dignos de um indivíduo
formado há três anos e cinco meses. Talvez por esse motivo suas crônicas não
fossem aceitas por ninguém, muito menos por ele. O ar ainda que carbonizado e o dinheiro apenas
na forma circular faltavam.
Num desses raros momentos de
extravasamento, entre vozes altas e espaços apertados o rapaz não pode deixar
de reparar que havia uma menina com ar de sobriedade e espírito maduro. A
conversa não foi difícil. Monica realmente era exuberante, daquelas que
conseguem elevar a um patamar superior uma simples conversa sobre o clássico
futebolístico do domingo anterior.
Foram quarenta minutos de risadas
de canto de boca e muitas interiores até que uma amiga da moça, com ar etílico
e espírito literalmente desequilibrado impôs um fim ao encontro. Telefones e
olhares foram obviamente trocados.
Depois de exatas duas semanas,
doze horas e vinte e cinco minutos devidamente cronometrados pela aflição de
Mathieu eles finalmente se encontraram de novo. O ambiente era menos, muito
menos hostil do que o do último encontro. Era impossível não reparar nas
arvores que circundavam todo o ambiente e nas famílias com suas crianças
passeando alegremente. O ar estranhamente puro, a falta do cigarro, a
felicidade de todos ao redor causavam no rapaz uma sensação parecida com a de
uma flecha atingindo simultaneamente as doze vertebras torácicas.
Talvez exatamente por isso
Mathieu vez pouco mais do que distribuir sorrisos singelos e agitações de
cabeça na vertical. Monica, por sua vez, gesticulava na mesma quantidade que
falava. De um jeito estranhamente tentador, ela conseguia ser ponderada ainda
que agitada.
Foi falando pouco e ouvindo muito
que o jovem rapaz descobriu que a moça era uma grande editora. Foi falando,
lendo e ouvindo muito que Monica conseguiu captar os traços no papel do rapaz e
os torna-lo suficientemente interessantes para que o mesmo conseguisse uma
cadeira e uma escrivaninha no mesmo andar que o dela.
Quando o casal se deu por si já
haviam se passado dois ou três anos de muitas carícias, de muitos intercâmbios,
de muito compartilhamento entre eles. Mathieu não tinha mais a barba, o medo e
a inocência. Monica continuava a mesma.
Teresópolis não via um único
sinal de luz solar havia cerca de um, dois dias. Mathieu, no entanto, não
conseguia mais como antes reparar. Seus textos o exigiam demais para isso. Ele
já havia trocado de escritório e não tinha em tempo a mesma quantidade que
tinha em sentimento para dedicar a Mônica.
Era Quinta- Feira. Mathieu entrou
em casa com as pernas, cabeça e costa doendo. Fez um largo copo de café.
Acendeu um, depois outro cigarro. No meio do segundo se deparou com um bilhete
de Mônica que vinha acompanhado com a cópia da chave da casa de Mathieu que ele
havia feito especialmente para ela. O bilhete fora escrito com caneta vermelha
e dizia: “O certo é escrever o que se vive e não viver o que se escreve.” . Teresópolis chorou.